Jornalista diz que Bolsonaro está apavorado com celular de miliciano
Graças ao caso Adriano, o presidente da República deixou de lado seu comportamento habitual de apoiar a violência policial para formar ao lado de defensores dos direitos humanos — no caso, os direitos de Adriano, miliciano e amigo da família
dos Divergentes
Por que Bolsonaro está preocupado com o telefone de Adriano
por Helena Chagas
Jair Bolsonaro conseguiu o feito inédito de unir contra si vinte governadores das mais diversas tendências e matizes políticos. A carta dos governadores tem como pano-de-fundo a sucessão de desentendimentos entre o chefe do Executivo e os titulares das administrações estaduais — a última, o desafio para que reduzam o ICMS dos combustíveis. Mas os signatários fizeram questão de mirar o ponto mais fraco do presidente da República: a relação com integrantes das milícias do Rio como o ex-capitão Adriano da Nóbrega, morto pela polícia baiana na semana passada.
Ao dar centralidade em sua carta à solidariedade ao governador petista da Bahia, Rui Costa, acusado por Bolsonaro pela suposta execução de Nóbrega, os governadores elevam o tema ao patamar de questão institucional. E expõem Bolsonaro como nunca.
Graças ao caso Adriano, o presidente da República deixou de lado seu comportamento habitual de apoiar a violência policial para formar ao lado de defensores dos direitos humanos — no caso, os direitos de Adriano, miliciano e amigo da família. Não que ele não tivesse direito e eles, como qualquer pessoa; o que se destaca aqui é a inflexão no discurso presidencial. Alguém já havia imaginado ver Bolsonaro esbravejando contra a execução de um “ bandido” ?
A preocupação demonstrada nas mais altas esferas da República em relação às investigações sobre a morte do miliciano Adriano só reforçam a importância de haver um trabalho pericial objetivo e detalhado, com a devida análise dos arquivos dos celulares apreendidos.
— Marcelo Lins (@MarceloLins68) February 18, 2020
Mas isso é pouco. O presidente da República continua pisando na casca de banana que os governadores respeitosamente jogaram em seu caminho. Nesta manhã, no twitter, pediu uma “ perícia independente” sobre a possível execução, usando recurso e linguagem próprias da oposição e de quem questiona perícias oficiais, feitas por instituições públicas como a Polícia, o Ministério Público, etc. Alguém já viu um presidente defendendo perícia independente da que dos órgãos do Estado?
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Não contente, na sequência de tuítes de hoje pela manhã, Bolsonaro trai sua enorme preocupação com o que pode ser encontrado nos telefones de Adriano: “quem fará a perícia nos telefones do Adriano? Poderiam forjar trocas de mensagens e áudios recebidos? Inocentes seriam acusados do crime?”.
Enquanto isso, no mundo lá fora, rola a greve dos petroleiros, a tentativa de fechar o texto da reforma da Previdência, os números débeis da economia, etc. Bem estranhas as preocupações desse presidente da República, e inevitável agora a curiosidade, depois que ele levantou a lebre: quem andou falando com Adriano?
Antes de sair do Palácio da Alvorada e atacar a jornalista, o presidente mostrou preocupação que mensagens e áudios nos 13 celulares de Adriano Nóbrega sejam “forjados”.
Nóbrega era próximo da família Bolsonaro.
— BuzzFeedNewsBR (@BuzzFeedNewsBR) February 18, 2020